Dignidade, amparo e indiferença com os
animais: da ideologia à prática, um ambiente onde poucos se arriscam, mas muito
se poderia fazer.
Elaborado por Viviana
Furlan*
As ideias ganham forma, mas
infelizmente não estamos imunes a contratempos e nem todas tornam-se viáveis
tão rapidamente, muito menos espontaneamente. Porém, mesmo frente às
adversidades, os atos solidários não parecem ceder ou cessar. Ao contrário,
renascem em novas propostas pelas mãos e mentes engajadas dos que se dispõem
voluntariamente a desenvolver o projeto solidário nascido do encontro da turma
202 em reflexão à própria caracterização da solidariedade.
O desafio é transformar conceitos em
práticas significativas condizentes a voz do grupo naquele dia e sobre o olhar
atento ao cuidado com o outro. Para isso, seguiu-se um momento de introspecção
do grupo à causa selecionada entre tantas outras: o cuidado com os animais.
Refletindo sobre o compromisso por eles assumidos junto a este outro ser
que se torna tão frágil perante a irreflexão do homem na correria do seu
dia-a-dia, perdido entre vontades, desejos e responsabilidades, notou-se que
muitas vezes nos fechamos em torno de nós mesmos e de nossos problemas,
anulando a existência deste outro quando longe de nosso alcance, interesse ou círculo
de relações. Diante desta problemática surgiu a pergunta, por que não intervir
nesta indiferença, promovendo uma ponte entre as necessidades e este olhar
desatento?
Convidar a ação através da divulgação
interna a escola no intuito de, através de seus colegas, espalhar-se pelas
famílias e quem sabe mais adiante ainda foi uma das respostas possíveis.
Timidamente então o projeto começou a tomar forma. Iniciou-se um estudo de
campo para elencar às principais necessidades deste outro ser que passou a ser
representado pela turma em parceria com a SOAMA, alimentando a intenção que os
movimenta como entidade assistencial ao abandono e crueldade com os animais
aqui em Caxias. Maio e junho foi dedicado para entrar em contato e estabelecer
meios de se tornar produtiva tal parceria dentro do alcance das limitações de
cada estudante voluntário.
Deste encontro de interesses eis que a
primeira intervenção concreta foi construída, amparando a ideia de provocar a
atenção à existência deste problema primeiramente entre os muros da escola
através de um convite turma a turma, tanto no turno da manhã, quanto no seu
inverso, a tarde. Nenhum aluno foi deixado de fora a pensar sobre a
possibilidade de cooperação ao seu alcance devido a aproximação dos mesmos num
contato direto com o trabalho da SOAMA durante o evento da festa junina
escolar. Organizado por responsáveis ao projeto solidário junto a experiência e
material da entidade houve espaço capaz de comportar uma pequena estrutura de
grande impacto, um ponto de venda e divulgação dos produtos com a finalidade de
arrecadar fundos, não apenas envolvendo dinheiro, mas com uma troca agradável
de informações e utilidades ao dia-a-dia dos visitantes à causa. Pais e alunos
puderam conhecer um pouco mais sobre o local do abrigo destes animais, sua
condição e extensão do projeto no dia 20 de junho durante a confraternização
junina, além de poder levar consigo camisetas, pantufas, canecas, calendários,
entre outras coisas que foram ofertadas à venda da qual, futuramente,
converter-se-ão em fundos à manutenção do ambiente concedendo maior dignidade
daqueles animais que antes desamparados, agora encontram um lar provisório, mas
que acabam na maioria das vezes por fixarem-se na falta de adoção ou
preconceitos.
Houve também a iniciativa de promover
contínua arrecadação na escola de materiais de maior carência e uso interno da
SOAMA, porém, devido a atividades paralelas à escola que promoviam tarefas de
arrecadação de alimentos nas olimpíadas de matemática, em consenso, nossos
estudantes optaram por segurar sua ideia para um segundo momento após as férias
escolares, permitindo assim minimizar alguma possível sobrecarga de impacto
negativo à ação. Assim, ambas as ações não seriam prejudicadas inibindo a
potenciais vontades de quem quisesse estar presentes às duas causas sem pesar
sobre si tal atitude.
Aguardamos ansiosos por mais notícias
que virão após o merecido descanso de férias escolares a esses “heróis” que,
dotados de voluntariedade, arriscaram-se à responsabilidade de propor para si
mesmos um desafio: sair do âmbito ideológico de seus pensamentos críticos para
encarar uma intervenção à realidade. Uma construção que se inicia com pequenos
gestos, mas que permanece nas suas histórias como exemplos aqueles que, muitas
vezes, por medo, desatenção ou cansaço desistem de fazer a diferença em suas
vidas e com elas. Parabéns a esse corajoso e audaz corpo voluntário formado de
jovens estudantes que não querem apenas existir ou opinar, mas ser e
aprender!!!
*Bolsista do
PIBID-UCS/Filosofia em parceria com voluntários da turma 202 da Escola São
Caetano em construção do projeto de solidariedade assumidos por eles.